quinta-feira, agosto 06, 2009

REFRESCANDO A MEMÓRIA
Como os tempos mudam! Tamanho da fonte
Sempre que posso remexo no meu baú que contém coisas guardadas há mais de 20 anos: revistas, recortes de jornais, gravações, fotografias.
Com a crise que se instalou no Senado envolvendo o presidente José Sarney, acusado de nepotismo e falta de decoro, encontrei uma peça rara que vale apena recordar para demonstrar que “o tempo é o senhor da razão”. A frase é atribuída ao escritor francês Marcel Proust, autor de "Em busca do tempo perdido”. Quem usava muito esta frase era o deputado Ulysses Guimarães.
Há 20 anos passados durante a campanha eleitoral para a presidência da República, (1989), em um dos programas da Justiça Eleitoral, o hoje senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello usando o espaço que lhe era de direito fez um pronunciamento digno de ser rememorado.
Na época era adversário dos mais ferrenhos do então presidente da República José Sarney, exatamente o oposto do que é hoje, passado todo esse tempo. Leiam o que disse Collor:
“Com licença, minha gente, para hoje falar com uma pessoa particular. Com um homem que desgraçadamente ainda ocupa a presidência da República. Gostaria de tratar o senhor José Sarney com elegância e respeito... gostaria...mas não posso. Não posso porque estou falando com um irresponsável, um omisso, um desastrado, um fraco.
Quero que a Nação saiba que estou falando com um cidadão de más intenções. Que não dignifica o cargo que ocupa.
A Nação brasileira, minha gente, está chocada. O Brasil pela luta de 30 gerações, na esperança de viver agora este momento histórico não merecia ter no seu instante final manchado pela ambição e pela falta de grandeza de um de seus piores presidentes que o nosso país teve a infelicidade de ter. Estou falando do senhor, senhor José Sarney, e das suas manobras.
Que direito tem o senhor de tumultuar a vida dos brasileiros e tentar transformar a escolha primeiro presidente legítimo depois de 30 anos em uma brincadeira de programa de auditório. Que direito tem o senhor?
É bom reavivar a memória de nossa gente. O senhor sempre foi um político de segunda classe. O senhor nunca teve uma atitude de coragem. O senhor pegou uma carona na história, beneficiando-se de uma tragédia que emocionou o país. O senhor é o culpado pela maior inflação de todos os tempos; o senhor arrochou o salário do trabalhador brasileiro; o senhor contrariou a vontade do povo e insistiu em ficar mais um ano na presidência. O senhor passou todo o tempo do seu governo apadrinhando os seus amigos, os seus familiares, muitos dos quais hoje sendo processados por atos de corrupção. E, ao mesmo tempo, perseguiu implacavelmente todos os que discordaram dos seus métodos e de dos seus atos.
Como fez comigo e com o povo de Alagoas. Sim, porque fui o único governador a não concordar com cinco anos de mandato; a não concordar com o seu clientelismo nem o fisiologismo. E agora, quando todo o país quer ver o senhor pelas costas, o senhor deu... (inaudível)...processo democrático e põe em risco as nossas Instituições.
Eu respondo senhor José Sarney, por que o senhor teria receio na mudança do Brasil?
O senhor está com medo de que?
O senhor está com medo de perder seus privilégios, e mordomias, talvez!
O senhor está com medo de ter o seu governo investigado, devassado?
É...o senhor tem razão em ter medo!
Porque eu mesmo vou levantar a sujeira do seu governo e por os corruptos na cadeia. Eu penso que ao patrocinar a candidatura de um amigo seu, mesmo sabendo que essa candidatura vai ser discutida na Justiça, porque está cheia de irregularidades e ilegalidades, o senhor está apostando no caos, na bagunça, do quando pior melhor.
Queira Deus, e impedimos este seu próprio sinistro que pode levar o conflito para ás ruas, colocar a conta contra o povo e a pretexto de manter a ordem, baixar um novo Ato Institucional n°. 5, adiando ás eleições e se perpetuando no poder como um ditador de opereta. O momento político seguia em ordem, minha gente, com os candidatos percorrendo o país e debatendo com o povo, com o processo democrático se consolidando e agora, o senhor José Sarney quer instalar o tumulto.
É preciso que a Nação saiba que o senhor vetou a Lei aprovada no Congresso e deixou em aberto o prazo para filiação partidária, isto para permitir até o último minuto o lançamento de algum nome que garanta a sua impunidade, a de seus amigos e a de seus familiares.
Com este gesto o senhor deixou a porta aberta para suas ambições pessoais brutalizassem a eleição para presidente. Mas, o nosso povo não é bobo, senhor José Sarney, não é cego, quando a gente sabe que o senhor patrocinou esta trama, esta montagem, esta negociata, esta candidatura Silvio Santos com o estilo de um golpe no baú.
O senhor em cinco anos não deu ao povo, casa, não deu ao povo educação... não deu ao povo saúde...não deu ao povo transporte. O senhor não deu nada!
Não deu nem dignidade, nem pão! E agora quer enganar o povo – senhor José Sarney – vendo o circo.
Pode perder suas esperanças!
Nosso povo não vai deixar que o senhor continue no poder, diretamente, ou por candidato de última hora.
Com o início do meu governo, este país vai começar a mudar. As instituições voltarão a ser sérias e respeitadas. Vamos restabelecer a credibilidade e a confiança nos partidos e nos homens públicos. O Brasil vai voltar a crescer, o brasileiro vai ter de novo orgulho do seu país.
Acabou o tempo da corrupção e do conchavo de políticos desonestos. Chegou, senhor José Sarney, vez é dos homens de bem. Chegou a nossa vez”.
O tempo é mesmo o dono da razão!

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