quarta-feira, julho 23, 2008

O COZINHEIRO DO CORREDOR DA MORTE
Não sabia. Fiquei sabendo depois que li na revista ISTOÉ interessante matéria de Cláudia Jordão, que na penitenciária de Huntsville Unit, na pacata cidade de Crockett, Texas, Estados Unidos, existe uma cozinha e um chef para elaborar os melhores pratos que são oferecidos como a última ceia para quem vai enfrentar, horas depois, a morte. Brian Price, 57, o cozinheiro do corredor da morte é quem prepara o manjar. É um ex-detento. Chegou a lançar recentemente um livro de receitas e abriu um restaurante. Brian já preparou a última ceia para 211 homens no corredor da morte mais sangrento dos Estados Unidos. Hoje, cinco anos após zerar sua dívida com a Justiça, ele acaba de inaugurar o primeiro restaurante Way Station, na pacata cidade texana de Crockett - onde mora em uma casa à beira de um lago com sua terceira esposa. Segundo Claudia Jordão, a experiência do ex-presidiário como cozinheiro de condenados à pena capital resultou no livro cujo título é, Refeições de matar, lançado em 2004, nos Estados Unidos. Graças ao status conquistado seu restaurante está sempre lotado, desde a inauguração, em abril deste ano. "Vem gente de outras cidades para provar minha comida", comemora. Além de cuidar do restaurante, onde comanda as caçarolas e é músico em uma banda gospel, o ex-detento está terminando a obra, O preço que você paga. Trata-se de um romance fictício, baseado em fatos reais, cujo pano de fundo é um suposto esquema de corrupção no sistema penitenciário americano. Os livros de Price não estão disponíveis no Brasil e só podem ser adquiridos pelo site do autor, que ainda é a estrela do documentário suíço A última ceia, da dupla Bigert & Bergstrom. A história de Price começa com a condenação por seqüestro - após uma briga com sua segunda esposa. Ele forçou o cunhado a levá-lo até ela usando uma arma de fogo - e abuso sexual. Nessa época cumpria a pena pelo primeiro crime em liberdade condicional e ganhava a vida como fotógrafo e músico. Até cometer outro delito. Após uma noite de bebedeira desenfreada, foi acusado pela ex-mulher de estupro por uma noite de sexo que ele garante ter sido consensual. O incidente o fez amargar uma pena de 14 anos e 2 semanas. Segundo o chef, a ex o denunciou para ele não ir atrás da filha do casal, que havia fugido grávida com o namorado. Quando chegou à cadeia, Price não tinha experiência em gastronomia. Foi escalado para trabalhar na cozinha e aprendeu o que sabe na área com um companheiro de prisão. Experiente, deixou de ser assistente para criar pratos com nomes irônicos como "frango à câmara de gás", "batata frita obituário" e "gulash guilhotina" - o cardápio de seu restaurante, por sua vez, usa nomes convencionais e oferece, por exemplo, hambúrguer e cebola empanada frita. Para cozinhar para os condenados à morte, Price seguia um ritual. Concentrado e em silêncio, preparava a refeição, embalava as bandejas e, como cristão fervoroso que é, rezava pela alma do condenado na presença da comida. Geralmente era assim que funcionava, mas houve uma exceção. Apenas uma vez pediu para não cozinhar para um homem, pois ele havia assassinado quatro crianças com uma faca de açougueiro, lembra. As pequenas vítimas eram conhecidas dele, pois costumavam brincar na companhia de sua única filha. Ele não precisou anunciar a recusa, porque o condenado negou-se a ingerir a refeição.