sexta-feira, julho 02, 2010

A CAPELA

A desativação da Capela existente há 30 anos no Hospital das Clínicas, em Porto Alegre de forma inopinada, fortuita, com a complacência da direção daquele estabelecimento está causando a maior polêmica sócio-religiosa.

Os responsáveis pelo Hospital foram de uma inabilidade e insensibilidade tão grande que custa-se acreditar tenha havido compadrio entre os que dirigem aquela casa de saúde e os funcionários que ousaram desmanchar a Capela.

Não se dignaram nem oficiar a Mitra Arquidiocesana sobre a intenção e a justificativa do desmonte. Incrível! Mas, a decisão foi tomada unilateralmente e como diz o italiano: “bela que se fini”.

Dom Dadeus Grigs, arcebispo metropolitano em sua coluna semanal no Jornal do Comércio desta quinta-feira, expressa toda sua perplexidade pelo fato. “Capela é uma igreja destinada à devoção particular, e sua ereção requer a autorização do bispo local, mediante um ofício, solicitando este benefício. Reveste-se por isto de oficialidade”, comanda Dom Dadeus. Recorda que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre na ocasião, ofereceu um recinto apropriado para favorecer a devoção de seus de seus usuários. O líder da Igreja Católica no Rio Grande do Sul explica que a direção não fez chegar um documento oficial nesse sentido. Portanto, fica tudo apenas na notícia jornalística. “A única pessoa competente para desativar uma capela católica, erigida sob sua direção, a pedido da direção do hospital de então, é o arcebispo”. Diante desta explicação de Dom Dadeus, se a atual direção do hospital julgasse inoportuna a permanência da capela , não lhe caberia mandar os seus funcionários desativá-la. Deveria dirigir um ofício à Mitra Arquidiocesana expondo suas razões para um eventual diálogo. E não foi feito – afirma o arcebispo. “A capela é de competência do arcebispo. Mandar descaracterizá-la, tirando-lhe sua característica própria, sem consultar a Mitra, constitui uma afronta”.

Mais adiante Dom Dadeus Grigs acrescenta que o fato de substituir, no hospital ou em qualquer repartição pública, o Cristianismo, que plasmou nossa nacionalidade, com seus símbolos, por uma religião oriental, conhecida por Nova Era – em inglês, New Age – não é nem democrático nem coerente. Na verdade, não se trata de conceder liberdade religiosa, que não está em questão,, mas de privilegiar uma religião praticamente inexistente entre nós e que nada influi nossa cultura. Se a direção tivesse notificado a Cúria de que não há mais católicos interessados nesse recinto sagrado, concedido há mais de 30 anos, e quisesse disponibilizá-lo para outra religião, com mais adeptos, não haveria reação. Mas privar os católicos de sua capela, oficialmente credenciada há tanto tempo, para cedê-la a uma religião sem rosto, que não se quer revelar publicamente, soa como desaforo. A população porto-alegrense criou um laço de afeto por aquele lugar. Despojá-la tão arbitrariamente só pode causar mágoas.

O arcebispo no final invoca a Constituição que garante a liberdade religiosa, também para os católicos. Diálogo é reconhecer a identidade de cada religião, na proporção de sua população e de sua influência na cultura brasileira. Exemplo disso é o Hospital Moinhos de Vento, de propriedade luterana, por exemplo, e que acolheu com muito carinho, em sua capela, a presença da eucaristia para poder ser levada aos enfermos católicos ali baixados. Isto é gesto de hospitalidade ecumênica!

Dom Dadeus lembra, ainda, o acordo entre Brasil e a Santa Sé, assinado em 13 de novembro de 2008, pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo Papa Bento XVI, em Roma, e ratificado em 2009, pelo Congresso Nacional, plenamente dentro dos princípios da Constituição brasileira, e que garante a Igreja Católica, no artigo 8º., o direito de assistência espiritual a seus fieis internados em estabelecimentos de saúde, assistência social, educação e penitenciárias. Pelo art. 7º. Proporciona proteção aos lugares de culto, assegurando que não demolirá nem ocupará edifício, dependência ou objeto de culto católico. No art. 14, empenha-se pela destinação de espaços físicos para fins religiosos. Este acordo agora foi desrespeitado!

Não se trata de privilégios para a Igreja, mas de um reconhecimento da obra benemérita que realiza em prol dos cidadãos. Sabe-se que a religião constitui fator fundamental de uma boa convivência humana, de saúde e de bem-estar social. O que se concede à Igreja Católica, pelo acordo, não redunda em prejuízo para as demais confissões religiosas. Não se pretende fazer prosélitos, mas atender adequadamente aos próprios fiéis, que são cidadãos brasileiros.

O que mais dói no caso do Hospital das Clínicas, conclui o arcebispo – não é o desrespeito para com a Igreja Católica, nem a exclusão de imagens, mas a expulsão de Cristo, presente no sacrário, do seu recinto. Isto não pode deixar ninguém insensível!

Tanto que não fiquei insensível, que estou me solidarizando ás palavras do pastor.

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