segunda-feira, julho 05, 2010

20 ANOS SEM CAZUZA
Muitas emissoras de rádio e televisão lembraram neste domingo a morte de Cazuza, ocorrida a 20 anos, de Aids.No início dos anos 80, um garoto dourado do sol de Ipanema surpreendeu o cenário musical brasileiro. À frente de uma banda de rock cheia de garra, começou a dar voz aos impulsos de uma juventude ávida de novidades. Ele, Cazuza, era a grande novidade.O Brasil saía de um longo ciclo ditatorial e vivia um clima de democracia ainda incipiente, mas suficiente para liberar as energias contidas. Cazuza desempenhou um papel importante nesse processo. E quando as misérias e mazelas nacionais foram se desnudando, ele respondeu sem meias palavras.A expressão de sua repulsa diante desse quadro só pode ser comparada à coragem com que lutou por sua vida, no enfrentamento público da Aids. Lições de indignação e de dignidade; de como levar a vida na arte e "ser artista no nosso convívio".No pouco que viveu, Cazuza deixou uma obra para ficar. Bebeu na fonte da tradição viva da MPB para recriar, num português atual e espontâneo, cheio de gírias, e num estilo marcadamente pessoal, a poesia típica do rock. Com justiça, foi chamado de o poeta da sua geração.Na definição dada pela sua mãe, Cazuza é como se fosse para nós gaúchos, guri. No Nordeste é moleque. Foi por isso que João Araújo, seu pai, de ascendência nordestina, certo de que sua mulher Lúcia teria um menino, começou a chamá-lo de Cazuza, mesmo antes de seu nascimento. Batizado como Agenor de Miranda Araújo Neto, desde cedo o menino preferiu o apelido. O nome ele só viria a aceitar mais tarde, ao saber que Cartola, um dos seus compositores prediletos, também se chamava Agenor.Cazuza nasceu a 4 de abril de 1958, no Rio de Janeiro e foi criado em Ipanema, habituado à praia. Os pais - ele, divulgador da gravadora Odeon; ela, costureira - não eram ricos, mas o matricularam numa escola cara, o colégio Santo Inácio, dos padres jesuítas. Como às vezes tinham que sair à noite, o filho único se apegou à companhia da avó materna, Alice. Quieto e solitário foi um menino bem-comportado na infância.Na adolescência, porém, o gênio rebelde do futuro roqueiro se manifestaria. Cazuza terminou o ginásio e o segundo grau a duras penas, e, depois de prestar vestibular para Comunicação, só porque o pai lhe prometera um carro, desistiu do curso em menos de um mês de aula. Já vivia então a boemia no Baixo Leblon e o trinômio sexo, drogas e rock 'n' roll. Que ele amasse Jimi Hendrix, Janis Joplin e os Rolling Stones, tudo bem. Mas vir, a saber, que se drogava e que era bissexual, isso, para a supermãe Lucinha, não foi nada fácil. Assim como não foi, para o pai, ter que livrá-lo de prisões e fichas na polícia, por porte e uso de drogas. João Araújo não queria o filho na vagabundagem e, em 1976, arrumou emprego para ele na gravadora Som Livre, onde já era presidente. Lá, Cazuza trabalhou no departamento artístico, fazendo a primeira triagem de fitas de cantores novos, e na assessoria de imprensa. Depois foi divulgador de artistas na gravadora RGE, e, após sete meses de um curso de fotografia na Universidade de Berkeley, deu alguns passos como fotógrafo. Mas nada disso o satisfazia.Perdeu a música brasileira um grande nome. Até hoje eu não sei porque os grandes ídolos, gênios da nossa música, preferem as drogas, a vida desregrada do que cada vez mais o sucesso!

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