domingo, setembro 19, 2010

TIRIRICA
Se a eleição fosse hoje, o humorista de TV Tiririca, candidato a deputado federal seria o  mais votado para a Câmara Federal. Ele perderia apenas para Enéas Carneiro, já falecido, que foi eleito em 2005 com um milhão e meio de votos, o mais votado em todo o país.
As últimas pesquisas apontam que Tiririca fará 3% dos votos em São Paulo.
Inusitado, exótico, bizarro. Na campanha eleitoral, são vários os adjetivos usados para descrever o comportamento de alguns candidatos frente às câmeras de TV. Para outros, a candidatura por si só já é um acontecimento. Exemplos não faltam: de Maguila aos integrantes do KLB, passando pela Mulher Pêra até o palhaço Tiririca. O fenômeno não é novo, mas vem se repetindo regularmente desde a redemocratização do país na década de 1980.
Por quê?
Especialistas ouvidos pelo UOL Eleições são unânimes em atribuir ao sistema político brasileiro à enxurrada de candidatos "bizarros" perambulando pelo horário eleitoral obrigatório. "A lista aberta torna a competição por espaço absolutamente selvagem. Tem um microssegundo para aparecer na TV - como você vai fazer? Se eu fosse fazer campanha, falaria alguma coisa engraçada na TV", afirma o cientista político Luciano Dias, do IBEP (Instituto Brasileiro de Ciências Políticas).
Nessa estrutura, o eleitor pode votar em quaisquer dos candidatos de um determinado partido. Na lista fechada, porém, o voto é na legenda: a sigla apresenta uma lista com, por exemplo, 50 integrantes, que vão sendo eleitos em ordem pré-definida à medida que o número de votos atinja o quociente necessário para cada um deles.
Esse tipo de candidato só existe em lista aberta. Eu sou muito a favor de fechar a lista, porque você não teria mais os exóticos. Outra razão é a pluralidade de partidos.
No Brasil o partido é muito fraco. O partido não está preocupado com a imagem, está preocupado em eleger deputados. Em países como Espanha, Uruguai, Alemanha e Itália o sistema vigente é o de lista fechada. "Nesse sistema não há Tiririca.
Outro exemplo é a Argentina, onde lista fechada inclui cotas para mulheres. Numa lista com 10 candidatos, o terceiro, o quinto e o décimo têm de ser mulheres. Então, a priori, pelo menos um terço dos deputados eleitos é feminino.
Pior que tá não fica. Embora não seja único, o perfil do palhaço Tiririca simboliza bem esse tipo de candidatura. Recentemente, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, afirmou que o humorista "debocha da democracia em seu programa de TV".
Suas aparições no horário eleitoral obrigatório motivaram críticas do promotor eleitoral do Estado de São Paulo, Maurício Antonio Ribeiro Lopes, diversas representações encaminhadas à Procuradoria Regional Eleitoral em São Paulo e reações de candidatos rivais na disputa por uma vaga no Legislativo.
Tiririca vai ser muito identificado com voto de protesto. É uma bizarrice, mas representa alguma coisa em termos de protesto.
O deboche não é bom para a democracia, para a credibilidade da democracia. Para os especialistas, a situação não deve mudar enquanto o sistema vigente for o de lista aberta. Liberdade é importante na competição eleitoral em qualquer democracia. Na lista aberta, qualquer um que tem direito político em dia pode se candidatar encontrar um partido que aceite a candidatura.
Mas, o fenômeno de Tiririca não é novidade. Há 50 anos, 100 mil paulistas votaram para vereador no Cacareco (um rinoceronte) cujo slogan era “vale quanto pesa”.
Eu lembro que havia eleitor que dizia: É melhor eleger um rinoceronte do que um asno.
Hoje se pode dizer: É melhor eleger um palhaço do que um corrupto.

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