sexta-feira, outubro 29, 2010

PESSOAS ESPONTÂNEAS
Pela primeira vez desde que ando de ônibus em Porto Alegre, alguém senta ao meu lado e puxa conversa. A passageira é uma mulher sexagenária, enfermeira aposentada e ganhando também pensão deixada pelo seu marido falecido. Tudo isto ela foi dizendo abrindo o diálogo em questão de segundos para me perguntar se eu iria assistir à noite, depois da novela Passione o debate entre Dilma Rousseff e José Serra. Respondi que não, porque já estava decidido e plenamente esclarecido em quem votar e que o debate, mesmo sendo o último, não iria mudar minha opinião.
- Mas eu vou assistir, disse-me ela, pois eu quero ver o Serra dar um show na Dilma.
Não preciso dizer em quem ela irá votar amanhã.
À medida que o ônibus avançava a conversa também evoluía. E é interessante, em questão de minutos fiquei sabendo que ela possuía apartamento próprio, casa na praia, um filho de 16 anos adotivo e uma renda mensal de 5 mil reais entre aposentadoria e pensão deixada pelo falecido marido.
Que coisa heim! Como tem gente de língua solta. Eu nunca vi aquela senhora e ela sem acanhamento revelou toda esta estória da sua intimidade para alguém estranho que era eu. Antes que o ônibus me deixasse na parada tive tempo de dizer-lhe apenas que também era aposentado, não tinha apartamento, muito menos casa na praia e era obrigado a trabalhar, mesmo tendo 73 anos, para poder sustentar minha família e meu salário não chegava aos cinco mil que ela percebia.
Ao chegar ao meu destino, desejei um bom programa de televisão e que o seu candidato vença a eleição amanhã.
Ela me respondeu:
- Foi um prazer tê-lo conhecido.
Certamente nunca mais vou reencontrar aquela mulher tagarela, mas ficou marcado o seu jeito de ser, espontâneo, bom papo etc.
Só uma dúvida ficou, será mesmo que as estórias que ela me contou são verdadeiras, ou ela queria puxar assunto para conversar durante o curto percurso do ônibus?
Tem gente que é assim mesmo, estão de bem com a vida, em contrapartida existem umas múmias que sentam ao nosso lado e nem licença pedem para sentar.

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