segunda-feira, novembro 16, 2009

A VIAGEM DO MORTO

Através do telefone um leitor conta-me uma estória impressionante que aconteceu recentemente em município localizado a cerca de 380 quilômetros de Porto Alegre, na Região do Alto Uruguai, mais precisamente em Maximiliano de Almeida. Impressionante do ponto de vista sentimental, porque a família da vítima teve que esperar quase dois dias para sepultar seu ente querido, pelo desmazelo do Estado, que mapeou de forma ridícula o zoneamento das equipes de perícia e necropsia no interior gaúcho.
O fato foi o seguinte: Eram oito horas da manhã, chovia. Um jovem que fazia suas costumeiras lidas interioranas no cuidado dos animais de criação, foi atingido por uma descarga elétrica e acabou morrendo. Houve atendimento de primeiros socorros, mas tudo foi insuprível. A Polícia cumpriu o seu papel; compareceu ao local, fez o levantamento de praxe, abriu inquérito etc., mas faltava o laudo chamado auto de necropsia que é feito por peritos para atestar a causa da morte.
Como o município fica no norte do Estado e pertence, segundo o famigerado zonemaneto, à Lagoa Vermelha, o falecido foi encaminhado para aquela cidade só sendo liberado às 10h do dia seguinte, portanto, cerca de 26h depois de ocorrido o óbito. De Lagoa Vermelha retornou até Erechim, seguindo para Barão de Cotegipe onde foi sepultado às 17h, portanto, do dia posterior à ocorrência. Logo, o falecido viajou depois de morto, mais ou menos 300 quilômetros até chegar a sua última morada, só para receber um documento descritivo, onde os atos do exame físico-cadavérico e avaliações complementares são registrados para, ao final, concluir a causa mortis.
Fico imaginando a dor e o sofrimento dos familiares desse rapaz, que além de perder um ente querido nas circunstâncias em que ocorreu e , ainda, ter que se sujeitar a determinadas providências burras (mas legais) quando ali, bem próximo (Erechim) o mesmo serviço poderia ser disponibilizado. Não consigo entender!
A pessoa que me revelou essa inacreditável estória disse-me mais. Citou a forma de tratamento dispensado aos familiares, a demora no atendimento etc. como que manifestando seu protesto em nome da infeliz família.
Para me certificar dos locais de atendimento da perícia, órgão vinculado a Secretaria da Segurança, acessei o site do Instituto Geral de Perícias e lá constatei que na região Norte existe médicos legistas em Erechim, Lagoa Vermelha, Passo Fundo e Carazinho. Ora, só não entendi porque o cidadão que faleceu vítima de uma fatalidade teve de ser levado para local mais distante, quando bem próximo há toda uma estrutura, até muito mais bem aparelhada do que na cidade para onde foi transportado o morto.
É um assunto para ser repensado, se é que existe o tal zoneamento para atendimento do IGP. Qualquer leigo conclui que é muita desfaçatez obrigar uma família em plena dor e sofrimento, pela perda de um membro querido, andar de um lado para outro em busca de um atestado de óbito. Convenhamos!
É hora então de re-zonear os postos de atendimento do IGP, para evitar fatos constrangedores como este que ocorreu num acidente em Maximiliano de Almeida.

Nenhum comentário: