segunda-feira, setembro 21, 2009

O HOMEM DE SMOOKING E CUECAS

Milhares de pessoas transitam diariamente pela Rua da Praia em Porto Alegre. Nela você encontra de tudo, bancos, lojas de departamentos, farmácias, shopping, óticas, livrarias, restaurantes, bares, há de tudo na Rua da Praia. E, artistas também. Artistas de rua como as estátuas vivas, conjuntos vocais peruanos com seus instrumentos e músicas folclóricas. Um dia desses contei aqui neste espaço a apresentação de um violonista. O cara era um bárbaro! Como há também aquele sujeito que retrata no papel a sua fotografia com lápis crayon.
Ontem quando passava por ela, entre os transeuntes, se misturava um gajo vestido a rigor, de smooking, ou seja, camisa branca, gravata, paletó preto, meias e sapatos pretos e de cuecas brancas, sem as calças, portanto. Vê se pode!
Evidente que chamava atenção. Não havia ninguém que ao passar por ele não se voltasse para dar uma olhadinha. De inicio imaginei que pudesse ser um protesto, mas não era, pois ele não portava nenhum cartaz, apenas caminhava normalmente no meio da multidão.
Seria por acaso um desajuizado? Não sei.
A verdade é que todos que viram o homem de smooking e de cuecas caminhando pela Rua da Praia até agora não sabem a razão daquela bizarra atitude.
Alguns paços atrás dele seguiam duas moças vestidas de saia rodada estampadas, blusa, e no nariz uma bolinha de ping-pong pintada de vermelho. Também não se ficou sabendo se faziam parte de um grupo de teatro, sei lá. A verdade é que todo mundo parava para olhar.
A capital dos gaúchos tem dessas coisas. Quando menos você espera algo diferente acontece.
Enfim, a Rua da Praia é a área de Porto Alegre que, por sua antigüidade, concentra a maior parte dos marcos históricos da Capital. Um passeio por ela permite reconstruir a história da capital dos gaúchos.
Pela Rua da Praia desfilaram as tropas gaúchas que participaram das maiores revoluções do país — como a Revolução de 30.
Na Praça da Alfândega, o cais do porto marcava o ponto de contato do Estado com o resto do país e do mundo: até a década de vinte deste século, a navegação de cabotagem era o principal meio de transporte de cargas e passageiros. Na Rua Professor Annes Dias, a Santa Casa de Misericórdia é um marco de quase dois séculos da medicina no Estado.
Essas histórias — e as estórias dessa história — estão traduzidas nos diversos edifícios do Centro. Há um precioso patrimônio arquitetônico a ser preservado. E que, por sua vez, é muito pouco conhecido pelos próprios moradores da cidade.
Na fachada da Biblioteca Pública há um raríssimo calendário positivista. E, no seu interior, salas cujas decorações homenageiam culturas tão diversas como a egípcia e a mourisca.
Exemplos como esse se multiplicam, em locais como a Praça Senador Florêncio (Praça da Alfândega), onde o Banco Safra ocupa um conjunto arquitetônico formado, antigamente, por uma farmácia e um cinema, e o Museu de Artes do Rio Grande do Sul e o prédio do Correio (correio velho, visto que há um correio novo logo atrás) formam um dos mais conhecidos cartões postais da cidade.
O próprio nome das ruas, praças e prédios se constitui em uma história à parte. O Centro é o lugar onde as denominações originais das principais ruas e praças se mantêm intactas, graças ao uso popular. A Rua da Praia, a mais central, é, na verdade, a Rua dos Andradas.
E é no Centro que está "A Paineira", assim denominada e aceita por todos os habitantes em uma cidade em que há milhares de paineiras, e que é um ponto de referência da Rua Sete de Setembro.
Por outro lado, é no centro que se encontram alguns dos principais locais de irradiação cultural da cidade. Basta lembrar que ali estão o Museu Júlio de Castilhos, a Casa de Cultura Mário Quintana, a Usina do Gasômetro, a Biblioteca Pública, o Museu de Artes do Rio Grande do Sul e o Museu da Companhia Estadual de Energia Elétrica.
Mas, como disse no inicio, a Rua da Praia tem de tudo, até história para ser revivida.

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