segunda-feira, janeiro 11, 2010

SEM VEREGONHA

Antigamente quando alguém nos chamava de “sem vergonha” a briga estava feita. Era considerado palavrão, ofendia, mexia com nossos brios. Hoje, “sem vergonha” passou a ser elogio. Por isso dizer que José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal é um sem vergonha, mesmo depois de ter sido apontado como chefe de uma organização criminosa, que o Brasil todo viu pela televisão recebendo propina, não significa nada, pois nada vai lhe acontecer. E tem mais, ele vai cumprir seu mandato até o fim. Pobre Brasil!
Que país é este onde um deputado filmado escondendo dinheiro nas meias reassume a presidência do poder legislativo para comandar o processo de impeachment do governador, seu aliado, acusado de corrupção?
É o que ocorrerá, logo mais, na Câmara Legislativa do Distrito Federal com a volta à cena do deputado Leonardo Prudente.
Está para se ver ato mais revelador do estado de apodrecimento dos costumes políticos na capital da República.
Licenciado do cargo por 60 dias, Prudente antecipou seu retorno depois de ter explicado - sem sequer franzir a testa - por que escondeu dinheiro nas meias. Palavras dele: “Não uso pasta”.
E o engraçado de tudo isto é que não se vê nenhuma reação legal, contra os envolvidos nessa ultrajante e vergonhosa ação imoral do senhor Arruda e seus aliados.
Mas até quando os brasileiros vão ter que suportar esses escândalos?
No rol dos "problemas nacionais permanentes", destaca-se a corrupção. Digo "permanente" porque está presente há várias gerações, é discutido há várias gerações, a solução jamais foi encontrada, e - ainda mais notório que isso tudo - jamais foi entendido precisamente. Não podemos eliminar a corrupção, mas podemos entendê-la, a partir do momento em que nos dispomos a raciocinar com isenção. Por que há tanta corrupção no Brasil?
Porque tem muita gente sem vergonha!
Quem vive em um país como o nosso logo se acostuma a considerar a lei uma entidade mais abstrata do que real. Há diversas leis que não valem na prática, são feitas "para inglês ver".
No Brasil os pobres são isentos de pagar impostos, e desta forma estão privados da lição elementar da cidadania. Apenas um indivíduo que nunca pagou imposto é capaz de votar em um político corrupto, sabendo que ele é corrupto. Por que haveria ele de se importar, se o dinheiro que o político roubou não saiu de seu bolso? E aqui me lembro de um estudioso alemão que viajava pelo mundo e coletava sinônimos para "corrupção" na linguagem popular dos países que visitava. Queria, com isso, auferir em que grau a corrupção se encontrava presente na cultura local, e houve países na África aonde os sinônimos coletados chegaram às dezenas. No Brasil, ignoro se temos tanta variedade assim, mas também ignoro se há algum outro lugar no mundo onde se encontre essa peculiaridade nossa: nomes diferentes para a corrupção dos ricos e dos pobres. Aqui, a corrupção dos ricos pode ser chamada de "bandalheira" ou coisa semelhante, mas a corrupção dos pobres tem um único e inconfundível termo para designá-la: o "jeitinho". Se a bandalheira é, obviamente, deplorável, o jeitinho é visto como tolerável louvável até, uma maneira criativa de contornar dificuldades.
Não creio que se dará um passo para eliminar a corrupção no Brasil enquanto não for percebido que o jeitinho e a bandalheira, na verdade, é a mesma coisa.

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