sábado, novembro 20, 2010

O TREM QUE DEIXOU SAUDADE
É lastimável o estado de abandono e deterioração dos trilhos e estações ferroviárias como, também, as obras de arte da engenharia construída há cem anos no trecho que liga Erechim a Marcelino Ramos. Já aconteceram vários movimentos envolvendo autoridades e lideranças regionais, visando o retorno do trem, mas até agora nada de positivo, infelizmente, aconteceu.
A Rede Ferroviária que foi construída em 1910 ligando o Rio Grande do Sul com São Paulo vai comemorar no próximo mês de dezembro um século. Foi construída pela companhia belga Auxiliaire de Chemins de Fèr, concessionária de toda Rede Ferroviária sulina.
Imaginava que para comemorar o centenário do trecho uma grande festa seria realizada com a volta do trem, numa viagem inaugural, para aproveitamento turístico. Não vai ocorrer! É lacrimável!
Essa ferrovia tem muita história. Foi ela a grande responsável pelo desenvolvimento de vários municípios por onde passa o seu traçado, (para ficar só na região norte) desde Passo Fundo, Cochilha, Sertão, Getúlio Vargas, Erebango, Capo-erê, Erechim, Balisa, Gaurama, Viadutos e Marcelino Ramos.
Por ela também passaram os revolucionários gaúchos de 1930 que combateram em favor de Getúlio Vargas em São Paulo.
Diversas vezes manifestei-me em favor da volta do trem, assim como, aplaudi o movimento das comunidades regionais com o mesmo objetivo, mas observo que houve um afrouxamento nas ações que precisam ser reativadas.
Após a desativação do trecho em 1997 as estações de Balisa e Canavial foram demolidas, para nada se edificar em seu lugar e se deixar como está, vão começar a desaparecer em breve os trilhos e o mato tomará conta do leito da ferrovia.
Acho que o movimento pela volta do trem não pode esmorecer. Os prefeitos através de sua associação AMAU, os vereadores pela ARVAU, os líderes empresariais pela ACIE, os Clubes de Serviço (Rotary e Lions) e outras instituições, bem que poderiam elaborar um plano de ação e pressão junto à concessionária, para que a maria-fumaça, a exemplo de outras cidades, volte a apitar na curva e tocar o sino antes da chegada na estação.

É de Ary Bueno, o príncipe dos poemas do amor, que diz:

La vai o trem, carregado de muitas saudades
Trem que corre pelos trilhos, cortando tantas cidades
Vai conduzindo muitos sonhos sem maldade
Tanta fé, tanta esperança, tanta busca a felicidade.

Em cada estação uma alegria, gente feliz de verdade
Cada parada descarrega, gente tão cheia de bondade
Gente simples, gente humilde, mais algumas cheia de vaidade.
Que no trem não se mistura, não se sentem a vontade.


La vai o trem, conduzindo centenas de passageiros
Carrega gente pobre, e gente com muito dinheiro
Cortando rios, túneis, e locais com árvores e pinheiro
Seu apito corta os ares, com um grito altaneiro.


E eu aqui olho os trilhos, por onde foi minha felicidade
Pois o trem levou consigo, quem amei com intensidade
Este trem que não retorna, seguiu rumo a outra cidade
Levou para sempre o meu amor, só me deixou esta saudade.


Saudade que não embarca, que não me deixa não
Esqueci de despachá-la para uma outra estação
E assim esta malvada, que só me traz a solidão
Se aninhou eternamente... na estação do coração.

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