segunda-feira, abril 04, 2011

A LÓGIDA DO ABSURDO
Quando residi em Porto Alegre, conheci Raul Moreau, apresentador de programas esportivos nas Rádios Gaúcha e Guaíba, (já faz alguns anos), plantão esportivo; apresentador do programas na televisão, enfim, teve uma vida dedicada a comunicação, (TV-Rádio-Jornal e Marketing & Propaganda. Portanto, um radialista de primeira linha. No dia em que me fez uma visita (eu ainda estava na Assembléia Legislativa), presenteou-me com seu livro “A lógica do Absurdo”, um conjunto de crônicas escritas por ele, que dá gosto de ler.
No fim de semana, li algumas de suas crônicas e deparei-me com uma que embora tenha sido escrita em janeiro de 2007 é muito atual. O escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar, recentemente falecido, disse uma frase a respeito do livro de Raul Moreau, muito verdadeira: Lógico é devorar o seu livro. Absurdo é não lê-lo.
Em uma de suas crônicas “Na prática, a teoria é outra” define com clareza a (in)capacidade dos nossos técnicos.  
Todos os anos, as chuvas do outono/inverno e especialmente da primavera insistem em confirmar aquilo que as autoridades fingem não saber: elas são previsíveis e confirmadíssimas. Aliás, de uns bons tempos para cá, a gente sabe de como o tempo vai se comportar dez, quinze dias ou mais antecipadamente, tamanho o avanço tecnológico da meteorologia.
No sudeste brasileiro, região mais densamente povoada e castigada do país, um número também previsível entre 20 e 100 mortes anuais ocorre por desabamentos de encostas, morros, valas e barracos fragilizados pelas chuvas, número que já pode até ser incluído nas estatísticas no início de cada ano.
Os discursos dos políticos (in)competentes insistem em derramar otimismo. E com tanta água as lágrimas das famílias vitimadas quase não são percebidas.
No Japão, onde a terra treme dezenas de vezes por dia, as leis que regulamentam construções são rígidas e sua infração significa multas milionárias. Lá, a sabedoria oriental já empilhou os mortos necessários para aprender qual o procedimento correto. Aqui, não por falta de avisos ou tragédias, continuamos a construir pontes de resistência insuficiente para a demanda, construir estradas em morros sem a devida proteção, e com frequência, elas são destruídas pelas enchentes, triste testemunha da incompetência de quem constrói ou tolerância de quem julga as concorrências, numa dúvida que não beneficia qualquer categoria.
Também algumas campanhas bem intencionadas de trânsito dirigidas a motoristas e pedestres esforçam-se para ensinar as melhores maneiras de preservar vidas que, como se sabe, não se dão bem com a velocidade, imprudência, sono, droga e álcool.
Apesar das boas intenções, ao final de cada temporada, os números fazem inveja ás guerras no Oriente, tanto lá como aqui – sem qualquer sentido, razão ou vencedores. Só há um ponto em comum: todos perdem!
Em vários países europeus pune-se com rigor tanto as velocidades acima do máximo como as abaixo do mínimo, com multas altíssimas em troca de um pequeno índice de acidentes, considerando-se o número de veículos e sua potência.
Ocorre que lá, independentemente da qualidade ou da educação dos motoristas, a duração média das estradas com a qualidade ideal de uso é de 30 anos, enquanto no Brasil, aos 10 anos de uso, uma rodovia já está pedindo remendos e um acidente tem muito mais possibilidade de acontecer.
Pois, cada metro quadrado de estradas construídas em países mais exigentes custa várias vezes mais do que as aqui projetadas. Algumas das nossas rodovias são verdadeiros monumentos eleitorais erguidos no último semestre permitido antes do pleito, e quem bate o recorde de velocidade é quase sempre o curto prazo entre o julgamento da concorrência e sua entrega ao público usuário. É só andar pelo Rio Grande!
A imprensa volta a falar insistentemente sobre a necessidade de concluir a BR-153 que liga Erechim a Passo Fundo. Já se realizaram inúmeras reuniões entre políticos e lideranças regionais, e, ao fim e ao cabo, sempre a mesma decisão: precisamos fazer pressão junto ao governo federal. Mas cadê a pressão. Ficar só no bla-blá-blá é semear apenas esperança. Coisa de político mesmo!

Mensagem de Otimismo
“Se choras por ter perdido o sol, as lágrimas não te permitirão ver as estrelas”.
Tagore

Nenhum comentário: